15 de jul. de 2012

O Argueiro no Olho

por Gilberto Silos

É admirável a atualidade dos ensinamentos bíblicos. Cada preceito parece ter o objetivo de sensibilizar o homem da nossa época, como se tivesse sido escrito nos dias de hoje. E nesse final de milênio (*), em que as relações interpessoais são muito conflitantes, a atitude mais comum é a da crítica. Crítica, julgamento e condenação, como se fossem os donos da verdade.

Lemos em Lucas. Cap.6: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e serei perdoados.” E ainda nesse mesmo capítulo lemos: “ Por que vês tu o argueiro no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?” .

O homem é extremamente maniqueísta em suas críticas e apreciações. Estabelece linhas divisórias muito rígidas entre aquilo que convencionou chamar de bem e de mal, de certo e errado, de superior e inferior, de feio e belo. É um comportamento temerário, porque o entendimento humano se fundamenta na hipótese de que as coisas são exatamente o que parecem ser. É uma grande precipitação sair por aí tudo rotulando. Bom ou mau, verdadeiro ou falso, útil ou inútil, podem ter um sentido relativo. Aqui no plano material o ser humano raciocina, aprecia, analisa e opina sobre o relativismo das coisas. O que ele conhece do mundo externo chegou à sua consciência através dos sentidos, canais ainda incipientes para lhe oferecer uma visão ainda mais ampla e exata da realidade. O aspecto externo das coisas é o produto de uma atividade interna não perceptível pelos sentidos físicos. Se essa atividade não for conhecida, como compreender o fenômeno externo? Não é o corpo físico que vê, ouve, tateia, respira e raciocina. É o ser interno invisível que o realiza por meio dos órgãos corporais. O homem vê como espelho. Observa a imagem refletida, imperfeita, destorcida. Confunde-a com a realidade, percebendo as coisas mãos pelo que imagina do que pelo que realmente são.

O ensinamento bíblico do “argueiro no olho” corresponde ao que hoje em dia denomina-se autocrítica. Antes de censurar o caráter alheio por que não fazer o mesmo com o nosso próprio? Por que não avaliamos nossa conduta e a maneira como reagimos diante dos multivariados episódios que constituem nosso cotidiano? Se o fizermos com honestidade provavelmente nos absteremos de criticar as pessoas, procurando entender as razões que as levam a agir dessa ou daquela maneira.
Publicado no informativo ECOS, maio, 1997-  da Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil